quarta-feira, 23 de maio de 2012

Disciplina Mental

Sendo a mente o espelho da vida, entenderemos sem dificuldade que, na morte, lhe prevalecem na face as imagens mais profundamente esculpidas por nosso desejo, à custa da reflexão reiterada, de modo intenso. Guardando o pensamento - plasma fluídico - a precisa faculdade de substancializar suas próprias criações, imprimindo-lhes vitalidade e movimento temporários, a maioria das criaturas terrestres, na transição do sepulcro, é naturalmente obcecada pelos quadros da própria imaginação, aprisionada a fenômenos alucinatórios, qual acontece no sono comum, dentro do qual, na maioria das circunstâncias, a individualidade reencarnada, em vez de retirar-se do aparelho físico, descansa em conexão com ele mesmo, sofrendo os reflexos das sensações primárias a que ainda se ajusta. 

Todos os círculos da existência, para se adaptarem aos processos da educação, necessitam do hábito, porque todas as conquistas do espírito se efetuam na base de lições recapituladas.

As classes são vastos setores de trabalho específico, plasmando, por intermédio de longa repercussão, os objetivos que lhes são peculiares naqueles que as compõem.

É assim que o jovem destinado a essa ou àquela carreira é submetido, nos bancos escolares, a determinadas disciplinas, incluindo a experiência anterior dos orientadores que lhe precederam os passos na senda profissional escolhida.

Em todas as escolas de formação, vemos professores ajustando a infância, a mocidade e a madureza aos princípios consagrados, nesse ou naquele ramo de estudo, fixando-lhes personalidade particular para determinados fins, sobre o alicerce da reflexão mental sistemática, em forma de lições persistentes e progressivas.

Um diploma universitário é, no fundo, o pergaminho confirmativo do tempo de recapitulações indispensáveis ao domínio do aprendiz em certo campo, de conhecimento para efeito de serviço nas linhas da coletividade.

Segundo o mesmo princípio, a morte nos confere a certidão das experiências repetidas a que nos adaptamos, de vez que cada Espírito, mais ou menos, se transforma naquilo que imagina. É deste modo que ela, a morte, extrai a soma do nosso conteúdo mental, compelindo-nos a viver, transitoriamente, dentro dele. Se esse conteúdo é o bem, teremos a nossa parcela de Céu, correspondente ao melhor da construção que efetuamos em nós, e se esse conteúdo é o mal, estaremos necessariamente detidos na parcela de inferno que corresponda aos males de nossa autoria, até que se extinga o inferno de purgação merecida, criado por nós mesmo na intimidade da consciência.

Tudo o que foge à lei do amor e do progresso, sem a renovação e a sublimação por bases, gera o enquistamento mental, que nada mais é que a produção de nossos reflexos pessoais acumulados e sem valor na circulação do bem comum, consubstanciando as idéias fixas em que passamos a respirar depois do túmulo, à feição de loucos autênticos, por nos situarmos distantes da realidade fundamental.

É por esta razão que morrer significa penetrar mais profundamente no mundo de nós mesmos, consumindo longo tempo em despir a túnica de nossos reflexos menos felizes, metamorfoseados em região alucinatória decorrente do nosso monoideísmo na sombra, ou transferindo-nos simplesmente de plano, melhorando o clima de nossos reflexos ajustados ao bem, avançando em degraus consequentes para novos horizontes de ascensão e de luz.

Trecho do livro "Pensamento e Vida" de Emmanuel por Chico Xavier

segunda-feira, 5 de março de 2012

A Força do Progresso


“O novo século, meu filho, inicia com uma proposta para que os irmãos de fé considerem o que têm feito de sua espiritualidade. É também ocasião oportuna para avaliar como cada um leva a vida espiritual. Não se fala em atualização? Pois bem, meu filho, é preciso atualizar os conceitos de religiosidade e espiritualidade. A fim de existir, o progresso necessita da constante reorganização dos pensamentos e da maneira de pensar e espera que os filhos de Deus, no caminho da vida espiritual, sigam as pegadas da evolução em todos os aspectos.

Aquela forma antiga de encarar a relação com Deus e com a vida, tradicionalmente ensinada pelas religiões, já caducou há bastante tempo.  E tem gente demais que paralisou o pensamento e o cérebro numa maneira ultrapassada de aprendizado espiritual. Há muito que novas ideias têm sido ventiladas no mundo; no entanto, vemos indivíduos cristalizados e endurecidos, como se um bloco de cimento contivesse suas faculdades. Pararam no tempo e prejudicam os outros e a si mesmos com esse jeito medieval de se relacionar com a espiritualidade.

É tempo de sair dos limites dos templos, meu filho, trabalhando em prol da ideia de uma comunidade planetária, global, e não partidarista.

A Terra está dando à luz um novo homem, que ressurge renovado pelas ideias progressistas e que derrubam barreiras engessadas pelo tempo. A crosta espessa formada pelos preceitos antiquados cede lentamente ante a chegada dessa nova geração de seres, que conquista espaço dia a dia no seio da civilização. Aqueles que não se atualizam serão deixados de lado, postos à margem por força mesmo do avanço das ideias e da renovação de conceitos que já ventila no mundo.

Há necessidade de maior diálogo entre aqueles que momentaneamente se acham separados por imposição de diferenças doutrinárias, culturais ou sociais. Observa-se uma crescente aproximação entre as minorias, historicamente rejeitadas e incompreendidas, e a maioria, que durante muito tempo acreditou – e, em alguns casos, ainda acredita – em sua superioridade e exclusividade. Ou seja, os excluídos estão sendo incluídos. Sabe, meu filho, o mundo está mudando. E você? Ainda teima em permanecer o mesmo?”

Trecho do recomendadíssimo livro intitulado Pai João, psicografia de Robson Pinheiro, pelo espírito Pai João de Aruanda.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Primeiros Passos

Quais seriam os primeiros passos para a "verdade"? Digo verdade entre aspas porque enquanto crescemos, e devemos crescer sempre em qualquer idade, a nossa percepção da verdade muda. O caminho de uma pessoa pode ser bastante diferente do das outras nessa busca da verdade oculta, mas creio que algumas linhas gerais são recorrentes a várias pessoas.

Pessoas que começam a se questionar se "isso" é tudo, se não há nada mais "além", e as respostas que as religiões tradicionais dão não são o suficiente para elas. Há uma certa fome de entender, de descobrir os segredos. Essa busca pelos segredos inicialmente leva a pessoa a um tipo de misticismo, de pensar se não existiriam certas fórmulas secretas guardadas por mestres ou místicos. Eu diria que esses são os dois primeiros passos: o primeiro é a decepção com a limitação de religiões tradicionais que não se aprofundam nas possibilidades do "além", o segundo é um estado de deslumbramento ao se abrirem as portas para as mais diversas possibilidades antes ignoradas ou repelidas.

Por mais que o "deslumbrado" seja impressionável pelas novas histórias que ele houve, é melhor do que ter a mente fechada por paredes intransponíveis que rechaçam tudo o que não se encaixa na sua certeza ou na sua "fé". No entanto, a pessoa deve continuar caminhando em busca da verdade, ao invés de estacionar boquiaberta frente as supostas maravilhas do "novo mundo" que ela encontrou. É preciso continuar a crescer e a desenvolver o discernimento, aprendendo cada vez mais a identificar a verdade por trás de qualquer linha mística/espiritualista/alternativa/religiosa.

Volta a estacionar aquele que apenas transfere a sua mesma fé cega de uma religião tradicional para uma linha espiritualista alternativa. Repito, devido à importância, que há de se crescer sempre, mesmo que isso faça com que a pessoa mude seus caminhos muito mais de uma vez. Um livro que para ela é elevadíssimo hoje, amanhã poderá não lhe parecer grande coisa. Não é preciso se preocupar com ser fiel à religião ou à linha espiritualista x ou y, pois o pior é ficar estagnado numa posição mediana, enquanto a vida sempre pede para se continuar crescendo. Melhor "trair" a religião do que trair a si mesmo na sua busca pela verdade.

Como diria um grande mestre espiritual: "Instruí-vos!" Seja livre para beber de todas as fontes, e com experiência, bom senso e lucidez, você vai se tornando um verdadeiro degustador especialista, identificando com cada vez mais precisão o sabor da verdade em cada fonte apreciada.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

QUEDAS PRECOCES

Não é raro o caso de jovens muito inteligentes que se perdem em vícios, drogas, álcool, o que for; jovens que podem até mesmo chegar perto ou concretizar o suicídio. São aqueles adolescentes que, com excelente lógica e raciocínio, começam a perceber os absurdos que existem no mundo, e que acabam se distanciando também de qualquer religiosidade, ao saber das atrocidades cometidas em nome de Deus, ao perceber a hipocrisia de determinados religiosos e a falta de lógica de ensinamentos baseados no deslumbramento e na cegueira. Estes mesmos jovens são ensinados que “intuição” é bobagem, que o que existe é no máximo o “instinto”, e que isso na verdade é algo animal, que para o humano já não serve. Dessa forma, esses jovens recusam aceitar o ilógico Deus de barba branca numa nuvem a vigiar e punir. E ao mesmo tempo esses jovens têm os impulsos do coração abafados pela sociedade “racional”, a qual as palavras “fria e calculista” definem melhor. Sonhos de “mudar o mundo” logo aparecem nessa fase da adolescência. Mas a maioria dos sonhos também não são bem-vindos na atual realidade. Exacerbamos a inteligência e atrofiamos o coração. Nossa época ainda abriga reações destrutivas de pais quanto aos filhos que querem ser músicos, atores, artistas, dançarinos, etc, qualquer coisa que fuja do convencional, ou do que faz dinheiro. Se o jovem se adaptar à dura realidade tudo bem: “e aquele garoto que ia mudar o mundo agora assiste a tudo em cima do muro” como Cazuza diria. Mas se a inconformação ficar, é preciso de uma válvula de escape. Aí é que muitas vezes entra aquele prazer que logo pode virar um vício, anestesiando a percepção, num suposto afastamento da dor, por uma felicidade temporária, que necessita de doses cada vez maiores e mais frequentes. Porém alguns ainda conseguem acordar do entorpecimento do “prazer” a tempo de evitar a tragédia, o fim de uma vida que deveria ser uma verdadeira obra de arte nas mãos de tão inteligentes artistas. Despertam e passam a fazer bom uso, tanto da sua inteligência quanto da sua percepção do que há de ruim e do que há de bom também. Aqui está um deles que acordou a tempo, e seu clipe contando um pouco da sua própria experiência, numa música entitulada “a vida não vai esperar (por você)” (depois procurem a letra, vale a pena):


terça-feira, 5 de julho de 2011

E OS ANJOS DA GUARDA???


– E os anjos de guarda? – inquiri.

Diante da surpresa que assomou ao semblante do nosso orientador, acentuei, reverente:

– Perdoe-me, mas ainda sou estudante incipiente da vida espiritual. Os anjos de guarda estão em nossa esfera?

Clarêncio encarou-me, admirado, e sentenciou:

– Os Espíritos tutelares encontram-se em todas as esferas, contudo é indispensável tecer algumas considerações sobre o assunto. Os anjos da sublime vigilância, analisados em sua excelsitude divina, seguem-nos a longa estrada evolutiva. Desvelam-se por nós, dentro das Leis que nos regem, todavia não podemos esquecer que nos movimentamos todos em círculos multidimensionais. A cadeia de ascensão do espírito vai da intimidade do abismo à suprema glória celeste.

Ligeira pausa trouxe paternal sorriso aos lábios do instrutor, que prosseguiu:

– Será justo lembrar que estamos plasmando nossa individualidade imperecível no espaço e no tempo, ao preço de continuadas e difíceis experiências. A idéia de um ente divinizado e perfeito, invariavelmente ao nosso lado, ao dispor de nossos caprichos ou ao sabor de nossas dívidas, não concorda com a justiça. Que governo terrestre destacaria um de seus ministros mais sábios e especializados na garantia do bem de todos para colar-se, indefinidamente, ao destino de um só homem, quase sempre renitente cultor de complicados enigmas e necessitado, por isso mesmo, das mais severas lições da vida? Porque haveria de obrigar-se um arcanjo a descer da Luz Eterna para seguir, passo a passo, um homem deliberadamente egoísta ou preguiçoso? Tudo exige lógica, bom-senso.

– Com semelhante apontamento, quer dizer que os anjos de guarda não vivem conosco?

– Não digo isso – asseverou o benfeitor.

E, com graça, aduziu:

– O Sol está com o verme, amparando-o na furna, a milhões e milhões de quilômetros, sem que o verme esteja com o Sol.

O apontamento de nosso orientador impunha-nos graves reflexões e, talvez por esse motivo, o silêncio tentou apossar-se do grupo, mas Clarêncio, reconhecendo que o assunto demandava elucidação mais ampla, continuou:

– Anjo, segundo a acepção justa do termo, é mensageiro. Ora, há mensageiros de todas as condições e de todas as procedências e, por isso, a antigüidade sempre admitiu a existência de anjos bons e anjos maus. Anjo de guarda, desde as concepções religiosas mais antigas, é uma expressão que define o Espírito celeste que vigia a criatura em nome de Deus ou pessoa que se devota infinitamente a outra, ajudando-a e defendendo-a. Em qualquer região, convivem conosco os Espíritos familiares de nossa vida e de nossa luta. Dos seres mais embrutecidos aos mais sublimados, temos a corrente de amor, cujos elos podemos simbolizar nas almas que se querem ou que se afinam umas com as outras, dentro da infinita gradação do progresso.
A família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros estão na Terra e nos Céus. Aquele que já pode ver mais um pouco auxilia a visão daquele que ainda se encontra em luta por desvencilhar-se da própria cegueira. Todos nós, por mais baixo nos revelemos na escala da evolução, possuímos, não longe de nós, alguém que nos ama a impelir-nos para a elevação. Isso podemos verificar nos círculos da matéria mais densa. Temos constantemente corações que nos devotam estima e se consagram ao nosso bem. De todas as afeições terrestres, salientemos, para exemplificar, a devoção das mães. O espírito maternal é uma espécie de anjo ou mensageiro, embora muita vez circunscrito ao cárcere de férreo egoísmo, na custódia dos filhos. Além das mães, cujo amor padece muitas deficiências, quando confrontado com os princípios essenciais da fraternidade e da justiça, temos afetos e simpatias dos mais envolventes, capazes dos mais altos sacrifícios por nós, não obstante condicionados a objetivos por vezes egoísticos. Não podemos olvidar, porém, que o admirável altruísmo de amanhã começa na afetividade estreita de hoje, como a árvore parte do embrião.
Todas as criaturas, individualmente, contam com louváveis devotamentos de entidades afins que se lhes afeiçoam. A orfandade real não existe. Em nome do Amor, todas as almas recebem assistência onde quer que se encontrem. Irmãos mais velhos ajudam os mais novos. Mestres inspiram discípulos. Pais socorrem os filhos. Amigos ligam-se a amigos. Companheiros auxiliam companheiros. Isso ocorre em todos os planos da Natureza e, fatalmente, na Terra, entre os que ainda vivem na carne e os que já atravessaram o escuro passadiço da morte. Os gregos sabiam disso e recorriam aos seus gênios invisíveis. Os romanos compreendiam essa verdade e cultuavam os numes domésticos. O gênio guardião será sempre um Espírito benfazejo para o protegido, mas é imperioso anotar que os laços afetivos, em torno de nós, ainda se encontram em marcha ascendente para mais altos níveis da vida.
Com toda a veneração que lhes devemos, importa reconhecer, nos Espíritos familiares que nos protegem, grandes e respeitáveis heróis do bem, mas ainda singularmente distanciados da angelitude eterna. Naturalmente, avançam em linhas enobrecidas, em planos elevados, todavia, ainda sentem inclinações e paixões particulares, no rumo da universalização de sentimentos. Por esse motivo, com muita propriedade, nas diversas escolas religiosas, escutamos a intuição popular asseverando: – “nossos anjos de guarda não combinam entre si”, ou, ainda, “façamos uma oração aos anjos de guarda”, reconhecendo-se, instintivamente, que os gênios familiares de nossa intimidade ainda se encontram no campo de afinidades específicas e precisam, por vezes, de apelos à natureza superior para atenderem a esse ou àquele gênero de serviço.

Chegávamos ao Lar da Bênção e os esclarecimentos do instrutor represavam-se em nossa alma, por inesquecível preleção, compelindo-nos a grande silêncio.

Entre a Terra e o Céu - Francisco Cândido Xavier - por André Luiz

quarta-feira, 1 de junho de 2011

SUBLIMANDO O AMOR E O SEXO


Este post são trechos retirados de dois capítulos do livro Ação e Reação de Chico Xavier, pelo espírito André Luiz. São palavras de Silas, assistente/instrutor com quem André e Hilário tiveram elucidações sobre diversos assuntos, como o amor e o sexo.

"... É preciso considerar que nos achamos ainda longe de adquirir o verdadeiro amor, puro e sublime. Nosso amor é, por enquanto, uma aspiração de eternidade encravada no egoísmo e na ilusão, na fome de prazer e na egolatria sistemática, que fantasiamos como sendo a celeste virtude. Por isso mesmo, a nossa afetividade terrestre, quando na primavera dos primeiros sonhos da experiência física, pode ser um conjunto de estados mentais, consubstanciando simplesmente os nossos desejos. E nossos desejos se alteram todos os dias... Em razão disso, recordemos o imperativo da recapitulação. Nessa ou naquela idade física, o homem e a mulher, com a supervisão da Lei que nos governa os destinos, encontram as pessoas e as situações de que necessitam para superarem as provas do caminho, provas indispensáveis ao burilamento espiritual de que não prescindem para a justa ascensão às Esferas Mais Altas. Assim é que somos atraídos por determinadas almas e por determinadas questões, nem sempre porque as estimemos em sentido profundo, mas sim porque o passado a elas nos reúne, a fim de que por elas e com elas venhamos a adquirir a experiência necessária à assimilação do verdadeiro amor e da verdadeira sabedoria. É por isso que a maioria dos consórcios humanos, por enquanto, constituem ligações de aprendizado e sacrifício, em que, muitas vezes, as criaturas se querem mutuamente e mutuamente sofrem pavorosos conflitos na convivência uma das outras. Nesses embates, alinham-se os recursos da redenção. Quem for mais claro e mais exato no cumprimento da Lei que ordena seja mantido o bem de todos, acima de tudo, mais ampla liberdade encontra para a vida eterna."

"Freud deve ser louvado pelo desassombro com que empreendeu a viagem aos mais recônditos labirintos da alma humana, para descobrir as chagas do sentimento e diagnosticá-las com o discernimento possível. Entretanto, não pode ser rigorosamente aprovado, quando pretendeu, de certo modo, explicar o campo emotivo das criaturas pela medida absoluta das sensações eróticas."

"Criação, vida e sexo são temas que se identificam essencialmente entre si, perdendo-se em suas origens no seio da Sabedoria Divina. Por isso, estamos longe de padronizá-los em definições técnicas, inamovíveis. Não podemos, dessa forma, limitar às loucuras humanas a função do sexo, pois seríamos tão insensatos quanto alguém que pretendesse estudar o Sol apenas por uma réstia de luz filtrada pela fenda de um telhado. Examinado como força atuante da vida, à face da criação incessante, o sexo, a rigor, palpitará em tudo, desde a comunhão dos princípios subatômicos à atração dos astros, porque, então, expressará força de amor, gerada pelo amor infinito de Deus. O ajuste entre o oxigênio e o hidrogênio decorrerá desse princípio, no plano químico, formando a água de que se alimenta a Natureza. O movimento harmonioso do Sol, equilibrando a família dos mundos, na imensidade sideral, além de nutrir-lhes a existência, resultará dessa mesma energia no plano cósmico. E a própria influência do Cristo, que se deixou crucificar em devotamento a nós outros, seus tutelados na Terra, para fecundar de luz a nossa mente, com vistas à divina ressurreição, não será, na essência, esse mesmo princípio, estampado no mais alto teor de sublimação? O sexo, pois, não poderia ausentar-se do reino espiritual que nos é conhecido, por ser de substância mental, determinando mentalmente as formas em que se expressa. Representa, desse modo, não uma energia fixa da Natureza, trabalhando a alma, e sim uma energia variável da alma, com que ela trabalha a Natureza em que evolve, aprimorando a si mesma. Apreciemo-la, assim, como sendo uma força do Criador na criatura, destinada a expandir-se em obras de amor e luz que enriqueçam a vida, igualmente condicionada à lei de responsabilidade, que nos rege os destinos."

"Na Terra, é vulgar a fixação do magno assunto no equipamento genital do homem e da mulher. Contudo, é preciso não esquecer que mencionamos o sexo como força de amor nas bases da vida, totalizando a glória da Criação. Foi ainda Segismundo Freud quem definiu o objetivo do impulso sexual como procura de prazer... Sim, a assertiva é respeitável, em nos reportando às experiências primárias do Espírito, no mundo físico; entretanto, é indispensável dilatar a definição para arredá-la do campo erótico em que foi circunscrita. Pela energia criadora do amor que assegura a estabilidade de todo o Universo, a alma, em se aperfeiçoando, busca sempre os prazeres mais nobres. Temos, assim, o prazer de ajudar, de descobrir, de purificar, de redimir, de iluminar, de estudar, de aprender, de elevar, de construir e toda uma infinidade de prazeres, condizentes com os mais santificantes estágios do Espírito. Encontramos, desse modo, almas que se amam profundamente, produzindo inestimáveis valores para o engrandecimento do mundo, sem jamais se tocarem umas nas outras, do ponto de vista fisiológico, embora permutem constantemente os raios quintessenciados do amor para a edificação das obras a que se afeiçoam. Sem dúvida, o lar digno, santuário em que a vida se manifesta, na formação de corpos abençoados para a experiência da alma, é uma instituição venerável, sobre a qual se concentram as atenções da Providência Divina; entretanto, junto dele, dispomos igualmente das associações de seres que se aglutinam uns aos outros, nos sentimentos mais puros, em favor das obras da caridade e da educação. As faculdades do amor geram formas sublimes para a encarnação das almas na Terra, mas também criam os tesouros da arte, as riquezas da indústria, as maravilhas da Ciência, as fulgurações do progresso... E ninguém amealha os patrimônios da evolução a sós. Em todas as empresas do acrisolamento moral, surpreendemos Espíritos afins que se buscam, reunindo as possibilidades que lhes são próprias, na realização de empreendimentos que levantam a Humanidade, da Terra para o Céu..."